Caravan SS: A Rara Perua que Fez História no Brasil

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A Chevrolet Caravan SS, lançada em 1978, é uma das joias raras do automobilismo brasileiro. Considerada a primeira perua verdadeiramente esportiva fabricada no Brasil, essa máquina se destaca não apenas por sua performance, mas também pela sua estética icônica. Com apenas 15 exemplares restantes, a Caravan SS representa uma era de inovação e ousadia que marcou o setor automobilístico nacional.

Um Lançamento Marcante

Quando a Caravan SS chegou ao mercado, ela trouxe uma proposta diferenciada. A perua não apenas oferecia bancos dianteiros individuais e um câmbio manual de quatro marchas no assoalho, como também contava com faróis de neblina e um volante de três raios perfurados, conferindo um toque esportivo ao design. O painel, equipado com um conta-giros, completava a experiência de condução. A verdadeira cereja do bolo, no entanto, era a opção de motor 4.1 250-S de seis cilindros em linha, capaz de render impressionantes 171 cv de potência e 32,5 kgfm de torque a 2.600 rpm.

Por outro lado, a maioria das unidades vendidas eram equipadas com o motor 2.5 de quatro cilindros, que oferecia 98 cv, bastante mais manso. Essa escolha, motivada pela busca por economia, levou muitos proprietários a optarem por um motor menos potente, especialmente durante a crise do petróleo, quando o custo da gasolina disparou.

O Destino da Caravan SS

O colecionador Alexandre Badolato possui uma unidade de 1978 restaurada, equipada com o motorzão de seis cilindros. Segundo ele, hoje em dia, não existem mais do que 15 Caravan SS desse tipo no Brasil, considerando seus escassos três anos de fabricação, que terminaram em 1980.

“A vasta maioria das Caravan SS saiu de fábrica com o motor 151-S, de quatro cilindros, pois os clientes preferiam o consumo mais baixo”, explica Badolato. Na época, publicações especializadas indicavam um gasto médio entre 4,9 e 7,1 km/l com o propulsor mais forte, o que certamente não ajudava na sua popularidade.

Muitos proprietários acabaram substituindo o motor de seis cilindros pelo 151-S, e isso foi o que aconteceu com a Caravan de Badolato. Ele encontrou o veículo há cinco anos em uma área rural de São Borja, no Rio Grande do Sul.

“Esse exemplar sobreviveu justamente porque em algum momento trocaram o motor de seis cilindros pela aplicação menor. A maioria das Caravan mais potentes foram ‘encostadas’, por conta do alto custo com abastecimento, e acabaram virando sucata”, analisa.

A Restauração da Perua

Quando Badolato adquiriu a Caravan, a numeração do chassi comprovava que ela saiu da linha de produção com o motor 250-S. Entretanto, o proprietário anterior já havia vendido o motor original, o que obrigou Badolato a buscar outra unidade de seis cilindros, do mesmo ano e com as mesmas especificações, para realizar a reforma completa.

“O trabalho durou cerca de dois anos”, conta ele. Como colecionador, Badolato mantém a Caravan e outras preciosidades em um sítio na região de Campinas (SP). Ele relembra que teve de praticamente reconstruir a perua derivada do Opala, restaurando-a como se fosse nova.

Isso incluiu uma nova pintura no tom amarelo Ouro, a funilaria, as faixas pretas de vinil, o interior, e, claro, o motor 250-S. O objetivo foi manter o máximo de peças originais durante a restauração.

Badolato não consegue especificar qual é a quilometragem atual da Caravan, nem quanto ela já havia rodado quando ele a encontrou no interior gaúcho. “Sei que ela rodou bastante, mas não tem como saber quanto, já que o hodômetro zera a cada 100 mil km”, explica.

O Apelo da Caravan SS

Peças publicitárias da época destacavam a combinação de performance, estilo e espaço interno oferecida pela Caravan SS. Apesar de o veículo ter apenas duas portas, o que era comum no final dos anos 1970, a propaganda afirmava: “Leve tudo na esportiva”.

“Pode chamar toda a família, seu time de amigos ou quem você quiser. Cabem todo mundo e mais a bagagem: a nova Caravan SS, com seus 1.950 litros de área útil, é um carro realmente versátil”, diz um anúncio da época.

O motor 250-S, que permitia que a SS acelerasse de zero a 100 km/h em cerca de dez segundos, não era exclusivo da configuração esportiva. Ele podia ser instalado como opcional em toda a gama da perua, desde a versão Standard até a luxuosa Comodoro.

Falando na Caravan Comodoro, ela era conhecida por oferecer um acabamento melhor e mais equipamentos do que a variante esportiva. Badolato ressalta que outra característica exclusiva dos Chevrolet com motor 250-S estava no conta-giros, cuja rotação ia até 7.000 rpm, em comparação aos 6.000 rpm da motorização mais mansa.

A Revolução do Motor 250-S

“Ao lançar o 250-S em 1976, a GM fez uma preparação leve de fábrica no motor 4.1 de seis cilindros oferecido até então. Instalou comando de válvulas mais bravo, carburador de corpo duplo maior, tuchos de válvulas mecânicos, hélice do sistema de arrefecimento com sete pás e volante do motor igual ao das configurações de quatro cilindros – para subir de giro mais rapidamente”, explica Badolato.

Graças a essas modificações, houve um ganho de 23 cv na potência e de 1,7 kgfm no torque, o que transformou o motor seis cilindros da General Motors de “chocho” para uma verdadeira máquina.

Além dessas melhorias, o propulsor esportivo se destacava pelo bloco pintado na cor vermelha e pela panela do filtro de ar cromada, elementos que conferiam um toque de exclusividade à Caravan SS.

A Importância da Caravan SS na Cultura Automobilística Brasileira

A Caravan SS não é apenas um carro; é um símbolo de uma época em que a indústria automobilística brasileira buscava se afirmar e inovar. Com sua combinação de estilo e desempenho, ela se tornou um objeto de desejo para muitos colecionadores e apaixonados por carros.

O fato de que hoje restam apenas 15 unidades desta perua esportiva a torna um verdadeiro tesouro. O trabalho de restaurar e preservar veículos como a Caravan SS é essencial para manter viva a memória automobilística do Brasil, permitindo que as futuras gerações conheçam a história e a evolução do setor.

Desafios da Preservação

Preservar veículos antigos como a Chevrolet Caravan SS envolve desafios. Muitas vezes, as peças originais se tornam escassas, e encontrar componentes específicos para restauração pode ser uma tarefa árdua. Além disso, os custos de manutenção e restauração podem ser elevados, o que desestimula muitos colecionadores.

No entanto, a paixão de colecionadores como Alexandre Badolato é o que garante a sobrevivência de exemplares tão raros. Sua dedicação em restaurar a Caravan SS é um exemplo do comprometimento que muitos amantes de carros clássicos têm em preservar a história automobilística.

O Legado da Caravan SS

A Chevrolet Caravan SS é mais do que uma simples perua; ela representa um capítulo importante na história do automóvel brasileiro. Sua produção limitada e a combinação de design e desempenho a tornaram um ícone entre os colecionadores e entusiastas.

A paixão pela Caravan SS transcende gerações, e seu legado continua a inspirar novos colecionadores a buscarem e restaurarem exemplares que, de outra forma, poderiam se tornar apenas lembranças do passado.

Conclusão

A história da Chevrolet Caravan SS é um testemunho do espírito inovador que caracterizou a indústria automobilística brasileira nas décadas passadas. Com apenas 15 exemplares restantes, essa perua é um símbolo de resistência e paixão.

Através de iniciativas como a de Alexandre Badolato, veículos como a Caravan SS têm uma chance de continuar vivos, permitindo que sua história seja contada e recontada para as futuras gerações. Ao admirar e preservar essas relíquias, você se torna parte da história automotiva, celebrando um legado que merece ser reconhecido e valorizado.

Assim, da próxima vez que você ouvir falar da Chevrolet Caravan SS, lembre-se de que, por trás de cada exemplar, existe uma história rica, um sonho de velocidade e a determinação de manter viva a paixão por carros que, por muito tempo, foram considerados apenas máquinas de trabalho.

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