O Formigão é um verdadeiro ícone da história automobilística brasileira, uma picape que nasceu em uma época de inovações e desafios, trazendo consigo um design futurista e uma proposta única. Vamos embarcar em uma viagem pelo tempo, explorando as origens, características e o legado deste veículo que se destaca como um “Cybertruck” à brasileira.
O Surgimento do Formigão
Em 1978, um empresário visionário do ramo automotivo, Paulo Sérgio Renha, decidiu criar algo diferente. O Brasil estava em uma fase de transição e, com isso, o mercado exigia veículos que não apenas atendessem às necessidades práticas, mas que também refletissem um estilo de vida inovador e descolado. Assim, surgiu a ideia do Formigão, uma picape que se destacaria pelo seu design curioso e pelas “chapas retas” que remetiam a um futuro promissor.
A Renha, empresa fundada por Paulo, já era conhecida por fabricar buggys e veículos fora de série, além de triciclos. O Formigão foi projetado a partir de um conceito inspirado nos esportivos Lamborghini da época, que se destacavam pela sua estética arrojada e desempenho.
Design e Características Técnicas
O Formigão foi concebido com um desenho retilíneo e futurista, refletindo uma estética que parecia ter vindo do futuro. Sua dianteira em cunha, a lateral quase reta e o para-brisa inclinado eram traços marcantes. A carroceria de fibra de vidro era montada sobre um chassi Volkswagen, o que conferia leveza e resistência ao veículo.
As rodas de liga aro 13, equipadas com pneus bojudos, davam ao Formigão um ar jovial e esportivo. Segundo a propaganda da época, o veículo era “um sonho sobre rodas que não conhece limites”, capturando a essência de liberdade e aventura que muitos jovens buscavam.
Motorização
Diferentemente do Cybertruck da Tesla, que possui uma motorização moderna e cheia de tecnologias avançadas, o Formigão adotava uma fórmula mais tradicional. Equipado com o motor 1.600 boxer refrigerado a ar da linha Volkswagen, o Formigão gerava 58 cv e 11 kgfm de torque. Essa configuração, embora simples, era suficiente para proporcionar um desempenho satisfatório, especialmente considerando que o veículo pesava apenas 650 kg, tornando-o mais leve que uma Kombi.
O motor e os componentes mecânicos eram garantidos pela própria montadora, que assegurava a confiabilidade do conjunto. Embora a picape não tivesse direção assistida ou ar-condicionado, seu interior contava com volante e bancos de desenho esportivo, ainda que bastante espartano para os padrões atuais.
Um Veículo para o Povo
A proposta do Formigão era atender a um público que buscava uma picape compacta, mas que não necessariamente desejava um veículo utilitário para trabalho. Ele se posicionava como uma alternativa para quem queria um carro prático, mas com um apelo mais jovem e descolado. Essa estratégia se mostrava eficaz em um mercado que começava a se diversificar, com novos modelos e possibilidades.
Concorrência e Contexto Histórico
Nos anos 70, as opções de picapes e utilitários no Brasil eram limitadas. Os consumidores contavam com modelos como a Kombi “picape” e a Ford F-75, além de algumas utilitárias médias. Com o lançamento do Fiat 147 picape em 1978, que representou a primeira versão de um carro de passeio transformado em utilitário, o mercado começava a se abrir para novas possibilidades. No entanto, o Formigão se destacava não apenas pelo design, mas também pela personalidade e proposta única que oferecia.
À medida que os anos 1980 avançavam, novos modelos começaram a surgir, como Saveiro, Pampa, e o Chevy 500, além do Fiorino baseado no Uno. O Formigão, com seu caráter distintivo, lutava para encontrar seu espaço em um mercado cada vez mais competitivo.
A Produção e o Legado
O Formigão foi fabricado até 1980, quando a Renha se associou a uma empresa em São Paulo para a produção de triciclos. Com essa mudança, os direitos de produção do Formigão foram transferidos para a Coyote, outra empresa que continuou a fabricar a picape, mas com um ritmo de produção muito mais lento.
Durante os anos 80, o Formigão ainda teve uma presença no mercado, mas seu projeto começou a perder força. A falta de inovação e a crescente concorrência acabaram levando ao abandono do projeto no início dos anos 90. No entanto, seu legado permanece vivo na memória dos entusiastas e colecionadores de veículos clássicos.
Um Ícone da Cultura Automobilística
O Formigão não é apenas uma picape; ele representa uma época de experimentação e ousadia no Brasil. Seu design futurista e sua proposta de ser um veículo para a juventude o tornaram um símbolo de um sonho automobilístico. Nos dias de hoje, o veículo é um objeto de desejo para colecionadores e apaixonados por carros antigos.
Com o resgate de modelos clássicos e a valorização do que foi produzido em solo brasileiro, o Formigão pode voltar a brilhar. O mercado atual, que valoriza a história e a originalidade, pode ver uma nova onda de interesse por este veículo tão peculiar.
O Futuro do Formigão
Hoje, o Formigão poderia ser um modelo atraente para os amantes de veículos elétricos, se adaptado às novas tecnologias. Imaginar um Formigão elétrico, com seu design característico e charme nostálgico, poderia atrair um novo público que aprecia a estética vintage, mas que também busca as inovações do século XXI.
Conclusão
O Formigão é mais do que uma simples picape; é um marco na história automobilística do Brasil. Sua criação foi um reflexo de um período em que a inovação e o estilo se uniram para dar vida a um veículo único. Com sua forma distinta e proposta ousada, o Formigão se estabeleceu como um verdadeiro Cybertruck brasileiro, um símbolo de criatividade e espírito livre.
Se você é um amante da história do automóvel, o Formigão merece seu reconhecimento. Ele não é apenas um veículo, mas uma parte da identidade automobilística nacional que deve ser celebrada e preservada. Que tal dar uma volta pelo passado e redescobrir essa joia rara da indústria automotiva brasileira?